sexta-feira, 21 de maio de 2010

Registros de uma aparente realidade

Vagabundeava… e enquanto ia, divagando, um leve gemido de ar me acompanhava feito sussurro de alguém cochichando ao meu olvido, com L, sim, de esquecimento... cochichando assombrosos segredos. E dessa forma seguia, um tanto perturbado por uma etérea verdade que se parecia, sob todos os aspectos, não àquilo que eu via, mas a um inaudível desassossego... depois de um tanto, percebia, naquele longo vagar, que apesar de tudo o mundo ia conforme a sua vontade (e mesmo à minha revelia...). Parei defronte a um balcão espelhado duma cafeteria. No reflexo via uma imagem que desconhecia... a luz baixando atrás dos montes produzia um colorido entre azul avermelhado... havia ali nalgumas mesas postas sob esse entardecer, outras pessoas comodamente assentadas despistando as horas que passavam desapercebidas... o cheiro do café se misturava a ruídos diversos. Motores acelerados, buzinadas despropositadas acentuavam a certeza de que a vida urge, mas sentia-me menos culpado (sim, o sentimento de culpa.). sentei-me por ali um bocado, pessoas ainda passavam apressadas enquanto uns outros tantos feito eu mesmo não nos importunávamos mais, não mais eu mesmo, com a urgência das horas idas. Afinal a vida... ah! Quem poderia explicar... e assim, de certo modo minimizava o meu desassossego com a doce contemplação duns outros feito eu, deixando passar o tempo... o tempo que sempre passa, decerto relativamente, porém passa, sempre... no balcão espelhado um atordoamento de imagens confundidas, imagens que não poderiam ser senão ali e sob aquelas circunstâncias às quais, já sem um resquício sequer de culpa, permitia-me... eram... talvez pensasse em Cantolíria. Mas me esqueci... foi quando então me vi, o eu refletido, bastante integrado àquela paisagem desconcertante de luzes refletindo cores e formas disformes entre aquele outro eu e o restante. Foi aí quando então tive um lapso de pensamento, o eu mesmo e o outro eu sendo assim distanciados... paguei o que devia e fui-me embora apressado, deixando no balcão refletindo o outro eu ensimesmado...

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