Um dia azul. Sol posto em alaranjado. Manchas se misturam em amarelo; vermelho; violeta... folhas verdes, quase desordenadamente, desenham em contraponto umas figuras que se assemelham a gentes. Uns seres estranhados passam a habitar esse universo em cor. Tonalidades diversas indicam uma certa profundidade. Ilusoriamente... o céu tão próximo e tão distante. Lembro quando criança, faz tão pouco tempo, uns rabiscos num papel. A folha branca. Imaculada (embora àquela época não soubesse o que isso significava) lápis de cor. Gostava de reinventar o mundo (meu brinquedo predileto)... vermelho. O céu não era azul. Nuvens alaranjadas tinham formas diversas, um rinoceronte tossindo. Um coelhinho soltando um pum. Um menino de cinco pernas oito braços língua pontiaguda e olhos de manga madura, soltando papagaio... meu céu deveria ser uma festa (feito aquela que não tinha sido convidado) havia uma lua, feito uma boca larga sorrindo um riso rasgado banguela e amarela, pontinhos riscados em violeta desenhavam o movimento exato de umas estrelas cadentes quando nesse exato instante uma meninazinha, posta à janela, a mão apoiando o queixo, o olhar melancolicamente longe, fazia um desejo... num chão esverdeado, uma moça, travessa, congelada num salto com as duas mãos levantadas feito a pegar camélias... que balançavam bem no alto penduradas numas árvores de um azul desconcertante num ajuntamento de traços sibilantes, soltando silvos feito a tentativa de um assovio, que era o fabricar ingênuo de ventos... os traços feito cobras, balançantes... um tanto juntos bem próximos e num quadrado, feita janela, a meninazinha continuava donde estava com a bochecha marcada pelas linhas de sua mão que uma cigana até poderia ler-lha sorte. Fazia passar o tempo, brincando de assoprar fazia ir passando o tempo... bem num cantinho à direita, em baixo, um senhor sentado, encolhido meio desajeitado olhava fixo à meninazinha e um pouco acima dele, um ser alado feito um anjo muito mal acabado torto, desengonçado...
Aquele meu mundo reinventado...
Aquele meu mundo reinventado...
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