Alguém arrastou uma cadeira, lá, no nono andar. Ouvi o ruído dela sendo arrastada... aquele som quando, imediatamente à hora que se ouve faz uma imagem no pensamento... aquele ruído seco; estridente. Os pés da cadeira riscando o chão... o ruído da cadeira e o chão! Ouve só pra você ver... Andresa, tá sozinha em casa. Mora num apartamento confortável; tem três quartos, sala, cozinha, banheiro e uma área de lavar. Mora ali faz cinco anos. Comprou junto com a Bruna logo quando elas se conheceram e decidiram dividir um apartamento. Amigas desde o primeiro instante... trabalhavam juntas, advogadas, as duas sem muitas pretensões na vida. Não queriam marido, filhos, queriam ir vivendo assim de bobeira, cultivando a amizade... Andresa ficava as tardes em casa, trabalhava lá mesmo. Andava de um lado para o outro, fazia café; depois tirava o copo do escorredor, colocava-o em cima da pia, servia o café e ia para o escritório, beber. Aí nessa hora a Andresa, distraída com o cheiro, a temperatura, o equilíbrio do copo com café... distraída, ela não pensa, nesse exato instante, que lá no oitavo andar mora o Marcos, escritor, que já pediu para ela não arrastar aquela maldita cadeira porque ele trabalha em casa e precisa de muito silêncio para a sua concentração. Esquecida disso, ela inclina suavemente a cadeira e segurando na ponta, puxa com força. Os dois pés da cadeira no chão. (há de se ater ao fato que logo em cima disse que a cadeira havia sido inclinada, ficando com essa ação, dois pés suspensos e os outros dois encostados no chão.) provocando o ruído da cadeira e o chão! É assim como chama isso que me incomoda tanto.
(Do livro de contos "Interseções", a ser publicado.)
(Do livro de contos "Interseções", a ser publicado.)
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